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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Krishnamurti

Minhas não são estas palavras e sim do Mestre que me inspirou. Sem Ele nada poderia ter feito, porém, com o Seu auxílio comecei a trilhar a Senda. Tu desejas também entrar na mesma Senda; por isso, as palavras que Ele me dirigiu te auxiliarão, se as obedeceres. Não basta dizer que são verdadeiras e belas; o homem que deseja obter êxito, necessita fazer exatamente o que lhe é ensinado. Olhar para o alimento e dizer que é bom, não satisfaz um faminto; é necessário estender a mão e comê-lo. Da mesma forma, não basta ouvir as palavras do Mestre; é preciso fazer o que Ele diz, atento à menor palavra, ao menor sinal, pois, se uma indicação não for seguida, se uma palavra for desprezada, perdidas ficarão para sempre, porque o Mestre não fala duas vezes.

Quatro são as qualidades necessárias para a Senda:
I -
Discernimento
II -
Ausência de desejos (desapego, abnegação)
III -
Boa conduta
Domínio da Mente
Domínio da Ação
Tolerância
Contentamento
Perseverança (unidade de direção para o fim visado)
Confiança
IV -
Amor
Tentarei dizer-te o que sobre cada uma delas o Mestre me ensinou.
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I - DISCERNIMENTO
A primeira dessas é o Discernimento, vulgarmente tomado no sentido daquela distinção entre o real e o irreal, que conduz o homem para a Senda. É isto; mas é, muito mais ainda, e deve ser praticado, não somente no começo da Senda, porém a cada passo que nela diariamente se, dá, ate o fim. Entras para a Senda porque aprendeste que se ente nela se podem encontrar as coisas dignas de aquisição. Os homens que não sabem, trabalham para adquirir a riqueza e o poder, porém estes bens são, quando muito, para uma vida somente e, portanto, irreais. Há coisas maiores do que essas, - coisas reais e duradouras; quando as tiveres visto uma vez, não mais desejarás as outras.
Em todo o mundo há somente duas espécies de pessoas as que sabem e as que não sabem - e o conhecimento é o que importa possuir. A religião de um homem, a raça a que pertence, - não são coisas de importância; o que é realmente importante é o conhecimento, - o conhecimento do Plano de Deus em relação aos homens. Pois Deus tem um plano e esse plano é a Evolução; quando o homem o tiver visto, e realmente o conhecer, não poderá deixar de cooperar nele, unificando-se com ele, tal a sua glória e beleza. Assim, pelo fato de possuir o conhecimento, ele está ao lado de Deus, firme no bem e resistente ao mal, trabalhando pela evolução e não com fins pessoais.
Se está ao lado de Deus, é um dos nossos, não tendo a mínima importância que ele se diga hinduísta, cristão ou maometano, ou que seja hindu, inglês, chinês ou russo. Aqueles que estão ao lado de Deus, sabem porque aí se acham, sabem o que têm a fazer e tentam cumpri-lo; todos os demais não sabem ainda o que têm a fazer, e por isso, freqüentemente agem de modo insensato, imaginando caminhos para si próprios, os quais lhes parecem agradáveis, não compreendendo que todos são um e que, portanto, só aquilo que o UNO quer pode, realmente ser agradável a todos. Seguem o irreal ao invés do Real. E enquanto não aprenderem a distinguir entre ambos, não se colocam ao lado de Deus, - e eis porque o Discernimento é o primeiro passo a dar.
Todavia, mesmo depois de feita escolha, deves lembrar-te de - que no real e no irreal há muitas variantes, e o discernimento deve ainda ser exercido entre o bem e o mal, o importante e o não importante, o útil e o inútil, o verdadeiro e o falso, o egoísta e o desinteressado.
Entre o bem e o mal não deveria ser difícil escolher, pois aqueles que desejam seguir o Mestre, já se decidiram a seguir o bem a todo o custo. Porém, o homem e seu corpo são dois, e a vontade do homem nem sempre está de acordo com a do corpo. Quando o teu corpo desejar alguma coisa, pára e considera se tu, realmente, desejas isso. Pois tu és Deus e só queres o que Deus quer; necessitas, porém, penetrar fundo em ti mesmo para em teu interior encontrares Deus e ouvirdes a Sua voz que é a tua. Não confundas os teus corpos contigo mesmo, nem o teu corpo físico, nem o astral, nem o mental. Cada um deles pretende ser o Ego, afim de obter o que deseja. Precisas, porém, conhecê-los todos, e conhecer-te a ti mesmo como seu possuidor.
Quando há um trabalho a fazer, é quando o corpo físico quer descansar, passear, comer e beber; o homem que não sabe, diz a si mesmo: "eu quero fazer estas coisas e preciso fazê-las". Mas o homem que sabe diz: "quem quer, não sou eu; portanto espere um pouco". Freqüentemente, quando há oportunidade de auxiliar alguém, o corpo insinua: "Que aborrecimento me trará isto: deixei-nos que outro qualquer tome o meu lugar." Porém, o homem que sabe lhe replica: "Tu não me impedirás de praticar urna boa ação".
O corpo é teu animal, cavalo que montas. Deves, portanto, tratá-lo bem, cuidar bem dele, não estafá-lo, alimentá-lo convenientemente, só com alimentos e bebidas puros e mante-lo perfeitamente limpo, sempre, sem o menor vestígio de impureza. Pois que sem um corpo perfeitamente limpo e saudável, não podes, efetuar a árdua tarefa de preparação, nem suportar-lhe os incessantes esforços, Deves, porém ser sempre tu quem o domine, e não ele o que te domine a ti.
O corpo astral tem seus desejos - e os tem as dúzias; há de querer ver-te encolerizado, ouvir-te dizer palavras ásperas, que ,sintas ciúmes, que sejas ávido por dinheiro, que invejes os bens alheios e cedas ao desânimo. Querer todas essas coisas e muitas outras mais, não porque deseje prejudicar-te, mas porque lhe aprazem as vibrações violentas e gosta de mudá-las continuamente. Tu, porém, não desejas nenhuma destas coisas; portanto, deves distinguir os teus desejos dos de teu corpo astral.
O teu corpo mental deseja manter-se orgulhosamente separado; quererá que penses muito em ti mesmo e pouco nos outros. Mesmo quando o tiveres desviado das coisas mundanas, tentará ainda especular cerca de ti próprio, fazer-te pensar no teu próprio progresso, em lugar de o fazeres na obra do Mestre e em auxiliar os outros. Quando meditares, tentará fazer-te pensar nas diferentes coisas que ele quer, em vez da única de que necessitas. Não és esse mental, mas dele dispões para o teu uso; assim mesmo aqui, o discernimento é necessário. Deves vigiar incessantemente, sob pena de vires a falir.
Entre bem e o mal o Ocultismo não admite compromissos. Custe o que custar, deves fazer bem nunca o mal, diga ou pense o ignorante o que quiser. Estuda profundamente as leis ocultas da Natureza e organiza a tua vida de acordo com elas, utilizando sempre a razão e o bom senso.
Deves discernir entre o que é importante e o que o não é. Firme como uma rocha em tudo que concerne ao bem e ao mal, cede invariavelmente aos outros nas coisas de somenos importância. Pois deves, ser sempre amável e bondoso, razoável e condescendente, deixando aos outros a mesma plena liberdade que para ti necessitas.
Procura verificar o vale pena ser feito e lembra-te que as coisas não devem ser julgadas pela sua grandeza aparente. Uma pequena coisa de utilidade imediata à obra do Mestre, merece muito mais ser feita do que uma grande coisa que o mundo considere boa. Precisas distinguir não somente o útil do inútil, mas ainda o mais útil do menos útil. Alimentar os pobres é uma boa obra, nobre e útil; porém, alimentar-lhes as almas é ainda mais nobre e mais útil.
Por muito sábio que sejas, muito terá ainda que aprender na Senda; tanto, que nela mesma precisarás discernir e meditar cuidadosamente o que deve ser aprendido. Todo o conhecimento é útil, e um dia o possuirás integralmente, enquanto, porém, só possuíres parte dele, cuida em que essa seja a mais útil. Deus tanto é Sabedoria como Amor; e quanto mais sábio fores, mais Ele se manifestará por teu intermédio. Estuda, pois, mas estuda em primeiro lugar o que mais te habilite a auxiliar os outros. Trabalha pacientemente em teus estudos, não para que os homens te julguem sábio, nem mesmo para gozares a felicidade de ser sábio, - mas porque o sábio pode ser sabidamente útil. Por muito que desejes prestar auxílio, enquanto fores ignorante, poderás fazer mais mal do que bem.
Precisas distinguir entre a verdade e a mentira; deves aprender a ser verdadeiro em tudo: no pensamento, na palavra e na ação. Primeiro no pensamento, e isto não é fácil, porque há no mundo muitos pensamentos falsos, muitas superstições insensatas, e ninguém que a eles se escravize poderá progredir. Por conseguinte, não deves acolher um pensamento simplesmente porque muitas pessoas acolhem, nem por constar de algum livro que os homens julguem sagrado, deves pensar por ti mesmo sobre a questão, e por ti mesmo ajuizar se ela é razoável. Lembra-te que, embora um milhar de homens concordem sobre um assunto, se nada conhecerem a seu respeito, a sua opinião não tem valor.
Aquele que quiser caminhar na Senda, tem que aprender a pensar por si mesmo, pois a superstição é um dos maiores males do mundo e um dos empecilhos de que, por ti próprio, te deves libertar inteiramente.
seu pensamento acerca dos outros deve ser verdadeiro; não penses a seu respeito aquilo que não saibas. Não suponhas que os outros estejam sempre pensando e ti. Se um homem faz alguma coisa que julgas poder prejudicar-te, ou diz alto que parece ser-te dirigido, não suponhas imediatamente; "ele pretende ofender-me.". O mais provável é que nunca pensasse em ti, pois cada alma tem as suas próprias preocupações, e os seus pensamentos não giram, as mais das vezes, em torno senão de si própria, Se um homem te falar colericamente, não penses: "Ele me odeia e quer ferir-me". Provavelmente alguém ou alguma coisa encolerizou e, acontecendo encontrar-te, voltou a sua colora sobre ti. Procede insensatamente, pois toda a cólera é insensata, mas nem por isso deves pensar falsamente a seu respeito,
Quando te tornares discípulo do Mestre, poderá sempre averiguar a veracidade do teu pensamento cotejando-o com o Seu. Pois o discípulo é um com seu Mestre, e basta-lhe fazer retroceder o seu pensamento até o d'Ele para verificar se ambos estão de acordo. Se assim não for, o pensamento do discípulo é errôneo, e ele deve modificá-lo instantaneamente, pois o pensamento do Mestre é perfeito, visto que Ele tudo sabe, Aqueles que por Ele ainda não foram aceitos, não podem fazer isto perfeitamente; porém, serão grandemente ajudados se freqüentemente se detiverem perguntar: "Que pensaria o Mestre a este respeito? Que faria ou diria Ele em tais circunstâncias?" Pois nunca deves fazer, dizer ou pensar o que não possas imaginar que o Mestre faça, diga ou pense,
Deves também ser verdadeiro no falar, exato e sem exageros. Nunca atribuas más intenções a outrem; somente o seu Mestre lhe conhece os pensamentos, e bem pode estar agindo por motivos que nunca penetraram em tua mente. Se ouvires uma narrativa contra alguém, não a repitas; pode não ser verdadeira; e, ainda que o seja, é mais bondoso nada dizer. Pensa bem antes de falar, a fim de não caíres em inexatidões.
Sê verdadeiro na ação; nunca pretendas parecer senão aquilo que és, pois todo fingimento constitui um obstáculo à pura luz da verdade, que deve brilhar através de ti como a luz do Sol através de um vidro transparente.
Precisas discernir entre o egoísmo e o altruísmo, pois o egoísta reveste muitas formas e, quando pensas tê-lo morto, finalmente, numa delas, surge noutra tão forte como sempre. Porém, gradualmente, o pensamento de auxiliar aos outros te encherá de tal modo, que não haverá lugar nem tempo para pensares em ti próprio.
De outra maneira ainda deves utilizar o discernimento: aprende a distinguir a Deus que está em todos e em tudo, por pior que seja a sua aparência exterior. Podes ajudar teu irmão pelo que tens de comum com ele - a Vida Divina - Aprende a despertar nele essa Vida, aprende a invocá-la nele; assim o salvarás do mal.
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II - AUSÊNCIA DE DESEJOS
Há muitas pessoas para quem a qualidade da Ausência de Desejos (abnegação, desapego) é difícil por pensarem que os seus desejos são elas próprias - e que, se esses desejos peculiares, simpatias e antipatias, lhe forem tirados, nada mais lhes restará, Essas, porém, são somente as que ainda não viram o Mestre; à luz da Sua Santa Presença todo desejo sucumbe, exceto o de se assemelhar à Ele. No entanto, antes mesmo de teres a ventura de encontrá-LO face a face, podes conquistar a ausência de desejos, se o quiseres. O discernimento já te demonstrou que as coisas que os homens mais desejam, tais corno a riqueza e o poder, não merecem o trabalho de ser possuídas,: quando isto realmente é sentido, e não apenas enunciado, cessa todo o desejo por elas.
Tudo isto é simples; necessitas apenas compreender. Há, porém algumas pessoas que se recusam a prosseguir em seus objetivo terrenos somente no intuito de alcançar o céu, ou para atingir a libertação pessoal dos renascimentos. Não deves cair neste erro. Se te esqueceste por completo de ti mesmo, não te podes preocupar com a época, da libertação do teu Ego ou com a espécie de céu que lhe caberá. Lembra-te que todo desejo egoísta é um liame, e que por muito elevado que seja o seu objetivo, enquanto dele não te desembaraçares, não estará totalmente livre para te entregares obra do Mestre,
Quando tiverem desaparecido todos os desejos pessoais, poderá ainda restar o de apreciares o resultado do teu trabalho. Se auxiliares alguém, quererás ver até que ponto o tens ajudado; talvez mesmo queiras que ele também o reconheça e se te mostre grato, Isto, porém, é ainda o desejo, além de uma falta de confiança. Quando aplicas a tua energia em auxiliar alguém, há de advir daí um resultado, quer possas vê-lo quer não; se conheces a Lei, sabes que deve ser assim. Precisas, pois, fazer o bem por amor ao bem, e não com a esperança da recompensa. Trabalha por amor ao trabalho, e não para ver o resultado; deves entregar-te ao serviço do mundo porque o amas e não podes deixar de o fazer.
Não desejes os poderes psíquicos eles virão quando o Mestre achar que melhor te será possuí-los. Forçá-los muito cedo traz consigo muitas perturbações; freqüentemente o seu possuidor é, desencaminhado por falazes espíritos da natureza, ou então se torna vaidoso e se julga isento de cair em erro. Em todo o caso, o tempo e a força necessários para adquiri-los poderiam ser gastos em trabalhar para os outros. Eles virão no decurso do teu desenvolvimento - porque deve vir; e se o Mestre entender que te será útil possuí-los mais cedo te ensinará como desenvolvê-los com segurança, Até então, melhor será que os não possuas.
Deves precaver-te, também, contra certos pequenos desejos, comuns na vida diária. Nunca desejes sobressair nem parecer instruído. Não desejes falar. É bom falar pouco; melhor ainda nada dizer, a não ser que estejas seguro de que o que pretendes dizer é verdadeiro, amável e útil. Antes de falar, reflete cuidadosamente se o que pretendes dizer preenche essas três qualidades; caso contrário, não o digas.
É bom que te habitues desde agora a refletir cuidadosamente antes de falar, pois quando alcançares a Iniciação, terás de vigiar cada palavra a fim de não dizeres o que não deve ser dito. Muitas das conversações habituais são desnecessárias e insensatas; e quando descem maledicência, tornam-se perversas. Assim, acostuma-te antes a ouvir do que a falar; não emitas opinião senão quando diretamente solicitada. Um enunciado das qualidades requeridas é assim formulado: saber, ousar, querer e calar, e a última das quatro é a mais difícil de todas.
Um desejo vulgar que deves severamente reprimir é o de te imiscuíres nos negócios de outrem. O que um homem faz, diz ou crê, não é de tua conta, e precisas aprender a deixá-lo absolutamente entregue a si próprio. Ele tem pleno direito à liberdade de pensamento palavra e ação, até o ponto em que não interfira no que concerne a outrem. Tu próprio reclamas a liberdade de fazer o que julgas bom; deves outorgar a mesma liberdade aos outros e, quando a usarem, não tens o direito de recriminá-los por isso.
Se julgas estar alguém agindo mal e encontras uma oportunidade de lho dizer em particular, e muito delicadamente, porque assim pensas, talvez consigas convencê-lo; porém, em muitos casos, isto mesmo não passaria de uma interferência indébita. De modo algum deverás murmurar com uma terceira pessoa sobre o assunto, pois isso seria uma ação extremamente má.
Se observares um caso de crueldade para com uma criança ou um animal, é teu dever intervir. Se vires alguém violando as leis do país, deves informar as autoridades. Se estiverdes incumbido de instruir uma outra pessoa, pode tornar-se teu dever adverti-la suavemente de sua falhas. Exceto em tais casos, ocupa-te de teus próprios afazeres e aprende a virtude do silêncio.
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III - BOA CONDUTA
Os seis pontos sobre a conduta, especialmente exigidos pelo Mestre, são:
I - Domínio da Mente
II - Domínio da Ação
III - Tolerância
VI - Contentamento
V - Perseverança (unidade de direção para o fim visado)
VI - Confiança
(Sei que algumas destas qualidades são freqüentemente expressas de modo diferente; porém, em todo caso lhes dou as designações que o próprio Mestre empregou ao explicá-las).
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1 - Domínio da Mente.
A qualidade da ausência de desejos mostra que o corpo astral precisa ser dominado, e o mesmo acontece corpo mental. Isto significa domínio do temperamento, de modo a não poderes sentir cólera ou impaciência; domínio da própria mente, a fim de que o teu pensamento sela sempre calmo e sereno, e através da mente, domínio dos nervos, afim de que sejam o menos irritáveis possível. Este último objetivo é difícil de atingir, porque, quando tentas preparar-te para a Senda, não podes deixar de tornar o teu corpo mais sensível; de sorte que os teus nervos podem ser facilmente estremecidos por um som ou choque, e sentir de modo agudo qualquer pressão. Faze, porém, o melhor que te for possível.
Mente calma implica também coragem e firmeza. Coragem, para afrontares sem medo as provas e dificuldades da Senda; e firmeza para suportares as pequenas perturbações inerentes à vida diária e evitares os aborrecimentos incessantes, oriundos de pequenas coisas em que muita gente consome a maior parte do seu tempo. O Mestre ensina que não tem a menor importância o que ao homem aconteça exteriormente; tristezas, perturbações, doenças, perdas devem ser nada para ele, e não há de ele permitir que lhe afetem a calma do mental. São o resultado das ações passadas, e, quando chegam, cabe-te suportá-las alegremente, com a lembrança de que todo mal é transitório e que é teu dever permanecer sempre contente e sereno. Pertencem às tuas vidas anteriores e não à esta: não podes alterá-las, portanto, é inútil que com elas te preocupes. Pensa antes no que estás fazendo agora e que determinará os acontecimentos da tua próxima vida, pois essa podes modificar.
Nunca cedas à tristeza nem ao desânimo. O desânimo é mau, porque contamina os outros e torna as suas vidas mais difíceis, o que não tens o direito de fazer. Portanto, sempre que venha a ti, deves repeli-lo imediatamente.
Deves ainda dominar o teu pensamento de outro modo: não o deixes vaguear. Fixa o teu pensamento naquilo que estiveres fazendo, a fim de que seja feito com perfeição. Não deixes a tua mente ociosa, porém mantém sempre nela bons pensamentos em reserva, prontos a avançar quando ela estiver livre.
Emprega diariamente o poder do teu pensamento em bons propósitos; sê uma força orientada para a evolução. Pensa cada dia em alguém que saibas estar imerso na tristeza e no sofrimento, ou necessitando auxilio, e derrama sobre ele teus pensamentos de amor.
Preserva a tua mente do orgulho, porque o orgulho provém somente da ignorância. O homem que não sabe, pensa ser grande, por ter feito alguma grande coisa; mas o sábio compreende que só Deus é grande e que toda boa obra é feita só por Ele.
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2 - Domínio da Ação
Se o teu pensamento for o que deve ser, encontrarás pouca dificuldade no domínio da ação. Lembra-te que para ser útil à humanidade, o pensamento deve traduzir-se em ação. Nada de indolência, mas uma constante atividade no trabalho útil. Deves, porém cumprir o teu próprio dever e não o de outrem, a não ser com a sua devida permissão e no intuito, sempre, de ajudá-lo. Deixa que cada um execute o seu trabalho a seu modo; mantém-te sempre pronto a oferecer auxílio onde for necessário, porém, nunca te intrometas. Para muita gente, a coisa mais difícil deste mundo é aprender a ocupar-se de seus próprios negócios, porém é exatamente isto o que deves fazer.
Pelo fato de empreenderes um trabalho de ordem superior, não deve esquecer os teus deveres comuns, pois enquanto não os cumprires não estará livre para outro maior. Não tome sobre ti novos deveres para com o mundo; porém, daqueles que já te encarregaste, desempenha-te perfeitamente, - os deveres definidos e razoáveis, que tu próprio reconheces como tais, e não os deveres imaginários que porventura alguém pretendia impor-te. Se queres pertencer ao Mestre, deves executar o teu trabalho comum melhor e não pior do que os outros, porque deves fazer também isto por amor a Ele.
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3 - Tolerância
Deves sentir perfeita tolerância por todos, e um sincero interesse pelas crenças dos de outra religião, tanto quanto pelas tuas própria. Pois a religião dos outros é um Caminho para o Supremo, da mesma forma que a tua. E para auxiliar a todos é preciso tudo compreender.
Mas a fim de alcançar esta perfeita tolerância, deves tu próprio, em primeiro lugar, libertar-te da superstição e da beatice. Precisas aprender que não há cerimônias indispensáveis; de outro modo te suporias um pouco melhor do que aqueles que as não cumprem.. Não condenes, porém, os que se apegam às cerimonias. Deixa-os fazer o que lhes aprouver, contanto que não se intrometam no que concerne a ti que conheces a verdade - pois não devem tentar forçar-te àquilo que já ultrapassaste. Sê indulgente com todos; e benévolo com tudo.
Agora que os teus olhos foram abertos, alguma das tuas antigas crenças e cerimonias podem parecer-te absurdas; talvez, na realidade, o sejam. Apesar, porém, de não poderes mais tomar parte nelas, respeita-as por amor às boas almas para quem elas ainda são importantes. Tem o seu lugar e a sua utilidade; assemelham-se às duplas linhas que, quando criança, te guiavam para escreveres em linha reta e na mesma altura, até que aprendeste a escrever muito melhor e mais livremente sem elas. Houve tempo em que delas necessitaste; esse tempo porém já passou.
Um grande Instrutor escreveu certa vez: "Quando eu era criança, falava como criança, entendia como criança; porém, quando me tornei homem, abandonei os modos infantis". No entanto, aquele que esqueceu sua infância e perdeu a simpatia pelas crianças, não é homem que as possa instruir e ajudar. Assim, olha a todos bondosamente, gentilmente, tolerantemente; porém, a todos da mesma forma, quer sejam hinduístas, jainistas, judeus, cristãos ou maometanos.
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4 - Contentamento
Deves suportar o teu karma alegremente, qualquer que ele seja, tendo o sofrimento como uma honra, pois demonstra que os Senhores do Karma te acham digno de auxilio. Por muito duro que ele seja, mostra-te agradecido por não ser ainda pior. Lembra-te que de muito pouca utilidade serás para o Mestre enquanto o teu mau karma não for esgotado e dele não estiveres livre. Oferecendo-te a Ele, pediste que o teu karma fosse apressado, e assim, numa ou duas vidas esgotadas aquilo que, de outro modo, exigiria uma centenas delas. Para maior proveito, porém, deves suportá-lo alegremente.
Há outro ponto de importância. Abandona todo sentimento de posse. O karma pode arrebatar-te aquilo de que mais gostas, mesmo as pessoas que mais amas. Ainda assim deves ficar contente - pronto a separar-te de tudo e de todos. Freqüentemente o Mestre necessita transmitir Sua força a outros através do Seu servo, mas não o poderá fazer se servo ceder ao desânimo. Assim, o contentamento é indispensável.
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5 - Perseverança.
A coisa única que deves manter sempre presente em tua mente, é o trabalho do Mestre. Qualquer outra coisa que surja em teu caminho, não te deve fazê-lo esquecer. Na verdade nenhuma outra coisa poderá surgir diante de ti, pois todo trabalho útil e desinteressado é trabalho do Mestre, e tu deves executá-lo por amor à Ele. E precisas dedicar-lhe toda a tua atenção a fim de ser o que de melhor possas fazer, O mesmo Instrutor escreveu também: "O que quer que faças, fazei-o de boa vontade, como sendo para o Senhor e não para os homens". Pensa como executarias um trabalho se soubesses que Mestre viria vê-lo imediatamente; é justamente nestas condições que deves executar tudo. Aqueles que sabem, melhor compreenderão o significado deste versículo. Há um outro semelhante, porém, muito mais antigo: "Em tudo o que a tua mão fizer, aplica toda a tua força".
A perseverança significa, também, que nada deverá afastar-te, por um momento sequer, da Senda em que entraste. Nem tentações, nem os prazeres do mundo, nem as afeições mundanas mesmo, deve jamais desviar-te. Pois tu mesmo deves unificar-te com a Senda; ela deve tornar-se de tal modo parte da tua própria natureza, que a percorras sem nisso teres que pensar e sem te desviares. Tu, a Mônada, assim o decidiste; separares-te da Senda eqüivaleria a separares-te de ti mesmo.
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6 - Confiança
Deves confiar em teu Mestre e ter confiança própria. Se já viste o Mestre, n'Ele confiarás plenamente, através de muitas vidas e mortes. Se ainda O não viste, deves tentar averiguar a Sua existência e confiar n'Ele, - porque, se o não fizeres, nem mesmo Ele te poderá ajudar. Sem que haja perfeita confiança, não poderá haver perfeita efusão de amor e poder.
Necessitas confiar em ti mesmo. Dizes que te conheces muito bem? Se assim pensas, não te conheces; conheces apenas o débil envoltório externo que freqüentemente tem caído na lama. Porém, tu - o Eu real - és uma centelha do fogo Divino, e Deus, que é Todo Poderoso, está em ti, e por esse motivo, nada existe que não possas fazer, se o quiseres. Dize a ti mesmo: "O que o homem fez, o homem pode fazer. Eu sou um homem, porém, sou também o Deus que está no homem; eu posso fazer isto e quero faze-lo". Pois se quiseres trilhar a Senda, a tua vontade deve ser como aço de boa têmpera.
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IV - AMOR
De todas as qualidades, o Amor é a mais importante, pois sendo bastante forte num homem, obriga-lhe a aquisição de todas as demais qualidades, que não bastariam sem o Amor. Freqüentemente é expresso como um intenso desejo de se libertar da roda dos nascimentos e mortes, e de se unir com Deus. Entendê-lo, porém, desse modo, denota egoísmo e abrange apenas uma parte da sua significação. Não é tanto o desejo, como a vontade, a resolução, a determinação. Para produzir seus resultados, essa resolução deve encher de tal modo a tua natureza inteira que não deixe lugar para qualquer outro sentimento. É, na verdade, a vontade de ser uno com Deus, não para escapares à fadiga e ao sofrimento, mas para que, pelo teu profundo amor por Ele, possas agir com Ele. E porque Ele é Amor, tu, se te quiseres unificar com Ele, deves encher-te de profundo desinteresse e amor.
Na vida diária isto implica duas coisas: em primeiro lugar, ter o cuidado de não fazer mal a nenhum ser vivo, e em segundo, vigiar as oportunidades de prestar auxílio.
Primeiro não fazer mal. Três pecados há que acarretam maior dano do que todos os outros no mundo - a maledicência, a crueldade e a superstição - por serem pecados contra o amor. O homem que quiser encher o seu coração do amor de Deus, deve estar incessantemente precavido contra a prática desses três pecados.
Observa os efeitos da maledicência. Começa com um mau pensamento, e este em si mesmo, é já um crime, pois que, em tudo e em todos existe o bem, em tudo em todos o mal existe. Podemos reforçar qualquer deles pelo pensamento, e deste modo ajudar ou embaraçar a evolução; podemos fazer a vontade do Logos ou resistir-lhe. Se pensares no mal que existe em outrem, cometes ao mesmo tempo três ações más:
1) Enche teu ambiente de maus em vez de bons pensamentos, aumentando, assim, a tristeza do mundo,
2) Se nesse homem existir o mal que supões, o fortificas e alimentas e, assim, tornas pior o teu irmão, em vez de o melhorar. Porém, geralmente, o mal não existe nele, mas é apenas um produto da tua fantasia; e então o teu pensamento tentará o teu irmão à pratica do mal, pois que, se ele não for ainda perfeito, poderás torná-lo tal qual o imaginas.
3) Saturas a tua mente de maus em vez de bons pensamentos; embaraças, assim , o teu próprio crescimento, tornando-te, aos olhos dos que podem ver, um objeto feio e penoso, em lugar de belo e atraente.
Não contente de ter feito todo este mal a si próprio e a sua vítima, o maledicente tenta, com todas as suas forças, fazer os outros participes do seu crime. Prontamente conta a perversa história, na esperança de que o acreditem; e então se juntam todos a enviar maus pensamentos ao pobre paciente. Isto, se repete dia à dia, e é feito, não por um homem, mas por milhares. Começas a ver quão terrível é este pecado? Deves evitá-lo por completo. Nunca fales mal de ninguém; recusa ouvir o mal que te disserem dos outros e suavemente observa: "Talvez não seja verdade, e mesmo que o seja, e mais caritativo não falar os nisso".
Quanto à crueldade, pode ser de duas espécies: intencional e não-intencional. A crueldade intencional consiste em causar dano a um ser vivo, de ânimo deliberado; este é o maior de todos os pecados - próprios antes de um demônio do que de um homem. Dirás que nenhum homem cometeria tal crime; porém, os homens o cometeram muitas vezes e o cometem ainda diariamente. Praticaram-no os inquisidores; muita gente religiosa o praticou em nome da sua religião, Os vivissectores o praticam; muitos mestres-escolas o praticam habitualmente. Toda essa gente procura desculpar a sua brutalidade dizendo que é costume; um crime, porém, não deixa de o ser porque muita gente o comete. O karma não leva em conta o costume, e o karma da crueldade é de todos o mais terrível. Na índia, pelo menos, não há desculpa para tais hábitos, pois o dever de não fazer mal é de todos bem conhecido. A sorte reservada ao cruel incide também sobre todos aqueles que intencionalmente matam criaturas de Deus, sob pretexto de desportos.
Sei que não farás estas coisas; e, por amor de Deus, quando a oportunidade se oferecer, falarás abertamente contra elas. Porém, existe a crueldade na palavra, da mesma forma que nos atos, e um homem que diz algo com a intenção de ferir a outrem, é passível desse crime. Isto também não farás; porém, às vezes, uma palavra impensada faz tanto mal como se fosse malévola. Deves, pois, estar de sobreaviso contra a crueldade irrefletida.
Ela se origina, comumente, da irreflexão. Um homem cheio de avareza e cobiça não pensa jamais nos sofrimentos que causa aos outros, pagando-lhes pouco e deixando meio famintos sua mulher e seus filhos. Um outro pensa apenas nos seus desejos luxuriosos, pouco se importando com os corpos e almas que arruina para sua satisfação. Um outro, somente para poupar-se uns poucos minutos de incômodo, não paga aos seus operários no dia designado, sem pensar nas dificuldades que lhes origina. Por essa forma muito sofrimento. Por essa forma, muito sofrimento pode ser causado pela irreflexão - pelo olvido de pensar sobre o modo pelo qual uma ação afeta os outros. Porém, o Karma não esquece nunca, e não leva em conta que os homens esqueçam. Se desejas entrar na Senda, deves pensar nas conseqüências das tuas ações a fim de não incidires em crueldade.
A superstição é outro grande mal, que tem causado muitas e terríveis crueldades. O homem que é seu escravo, desdenha aqueles que são mais sábios e tenta fazê-los agir do mesmo modo. Pensa nos horrendos massacres produzidos pela superstição que aconselha o sacrifício de animais, e pelo ainda mais cruel preconceito de que o homem necessita de carne para alimentar-se. Pensa nos maus tratos que a superstição tem criado para as classes oprimidas da nossa Índia bem amada, e verifica por aí quanto esta má qualidade pode originar de covarde crueldade, mesmo entre aqueles que conhecem o dever de ser fraternais. Muitos crimes os homens cometeram em nome de Deus do Amor, movidos pelo pesadelo da superstição; cuida, pois, muito para que dela não reste em ti o menor vestígio.
Esses três grandes crimes deves evitar, pois são fatais a todo o progresso, por serem pecados contra o Amor. Não basta, porém, refrear o mal; é preciso ser ativo no bem. Deves encher-te tanto do intenso desejo pela formação desse hábito de serviço, que estejas sempre vigilante para prestá-lo em torno de ti - não somente aos homens, como também as plantas e aos animais. Deves prestá-lo nas pequenas coisas, cada dia, a fim de que não percas as raras oportunidades em que se te apresentem grandes coisas para ser feitas, Pois que, se anseias unificar-se com Deus, não é por amor a ti próprio, mas para que possas ser um canal através do qual o Seu amor flua aos homens, teus irmãos .
Aquele que está na Senda, não existe para si mesmo mas para os outros; esquece a si próprio para poder servi-los. Ele é como uma pena na mão de Deus, através da qual o Seu pensamento fluí e pode encontrar neste mundo uma expressão que, sem esse instrumento, não poderia ter. É ao mesmo tempo uma coluna de fogo vivo a radiar sobre o mundo o Amor Divino que lhe enche o coração.
A Sabedoria que torna capaz de ajudar, a Vontade que dirige a sabedoria, o Amor que inspira a Vontade - tais são as qualidades requeridas. Vontade, Sabedoria e Amor são os três aspectos do Logos; e tu, que desejas alistar-te ao Seu serviço, deves expressar esses três aspectos no Mundo.

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